Lauryn Hill atesta longevidade de sua obra em show em SP
Eram músicas de 20 anos atrás, mas não parecia. Lauryn Hill retornou a São Paulo nesta sexta (3) mostrando que as músicas de seu único álbum de estúdio, “The Miseducation of Lauryn Hill” (1998), continuam relevantes e capazes de emocionar um Espaço das Américas com público máximo.
“Miseducation” sempre foi conhecido pelo seu ecletismo, ou melhor, pela capacidade de agregar de maneira espontânea diversas vertentes da música negra, do R&B ao reggae. Tudo guiado pela estética do hip-hop, das rimas e dos vocais intensos.
A variedade sonora esteve refletida na plateia. Houve um equilíbrio raro entre homens e mulheres, brancos e negros, jovens e adultos, no perfil do público de 8 mil pessoas.
Lauryn se apresentou com uma banda numerosa e sua voz ainda assim foi protagonista ? não pela imposição, mas pela habilidade de interpretação. Sua capacidade de lidar de maneira sentimental com a dicção foi a chave das performances.
Mesmo com alguns resquícios de rouquidão ? ela estava gripada há poucos dias ?, Lauryn conseguiu tanto atingir notas altas quanto transformar trechos melódicos em versos declamados. Teve tanto seus momentos de Whitney Houston (“The Miseducation of Lauryn Hill”) quanto de Nas (“Final Hour”).
“Eu era uma garota, fiquei fascinada com as love songs e com o hip-hop”, ela lembrou de si mesma no fim dos anos 1990, anunciando “Ex-Factor”. “Tinha que misturar tudo. Queria músicas complexas e sofisticadas sobre amor. Criei canções como esta.”
Como tem sido comum nesta turnê, Lauryn modificou os arranjos de suas músicas. “Não sou um robô”, ela já disse para justificar que precisaria transformar as canções para continuar tocando-as depois de duas décadas.
As músicas acabaram ficando mais arrastadas e ganhando novos andamentos. Apesar de deixar confusas algumas performances, os refrães mais conhecidos da cantora passaram ilesos, pois o público os cantava como na gravação original ? e em volume mais alto do que o próprio som que vinha do palco.
“(Doo Wop) That Thing”, hit máximo de Lauryn, chegou a ganhar um toque de samba, em um dos momentos de saudação à cultura brasileira do show. Ela também chegou a dizer que a língua do país era “muito musical”, entre declarações de amor à plateia.
Em 2019, o hip-hop é a música mais ouvida dos Estados Unidos. Gigantes da música contemporânea como Drake e Cardi B continuam sampleando as músicas de Lauryn. E a influência de “Miseducation” na cultura está mais perceptível do que nunca.
Lauryn é despojada o suficiente para ser amada pelo rap eletrônico jovem, sofisticada o suficiente para ser apreciada pelos mais puristas fãs da tecnicidade musical.
Com uma demora curta para a fama de atrasada que carrega (“apenas” 50 minutos) e uma presença de palco constante, Lauryn não parecia nem de longe uma artista celebrando a própria nostalgia. A impressão foi de que seu repertório não apenas resistiu ao desgaste do tempo, como está mais relevante do que nunca.
Leia mais (05/04/2019 – 02h13)