É preciso mapear e disseminar modelos inovadores de ensino

Inovações na educação e questionamentos sobre o modelo convencional de ensino já acontecem no Brasil. No entanto, as experiências exitosas são isoladas e carecem de mapeamento e de ligação com uma rede de profissionais e instituições para que os métodos sejam disseminados, segundo especialistas.

O desafio é fazer a integração entre essas iniciativas e o espaço escolar, de acordo com palestrantes do 3º fórum Inovação Educativa, realizado pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e com apoio do movimento Todos pela Educação.

O evento, que contou com mediação dos jornalistas da Folha Everton Lopes Batista, Fábio Takahashi, Paulo Saldaña e da colaboradora do jornal Sabine Righetti, foi realizado no teatro da Unibes Cultural, nos dias 22 e 23, em São Paulo.

De acordo com Janaína Barros, professora do Instituto Chapada, já existem ferramentas e projetos úteis para a articulação de um modelo educativo inovador.

A educadora destacou a importância de ações colaborativas e de trocas de experiências como forma de aprimorar a formação dos professores e garantir o acesso a conhecimentos que eles não teriam apenas dentro da escola.

Uma iniciativa para viabilizar a interação foi lançada pelo Movimento Inovação na Educação durante o fórum. Trata-se de uma plataforma digital na qual educadores e instituições de ensino de todo o país possam conectar-se uns aos outros e compartilhar experiências.

A plataforma dá continuidade à iniciativa do Ministério da Educação que, em 2015, identificou escolas que inovam na educação básica. São locais onde a inovação está no espaço físico, na metodologia dos educadores, na gestão e na relação com a comunidade. No site, hoje, estão mapeadas 106 instituições.

Para Helena Singer, socióloga e vice-presidente da Ashoka América Latina, ONG internacional de empreendedorismo social, sempre se falou muito sobre acesso à escola e pouco sobre inovar. ?Estamos no século 21 com modelo de ensino e critérios para medir qualidade do século 20.?

A ONG encabeça o movimento ao lado da Associação Cidade Escola Aprendiz e da Fundação Telefônica Vivo.

Entre outras ações que estão em andamento no país, está o Pacto Pela Aprendizagem no Espírito Santo, implantado no estado em 2017, que integra municípios e sociedade civil. O pacto disponibiliza um sistema eletrônico que organiza as informações dos estudantes durante toda a vida escolar.

?É possível acompanhar os dados em tempo real, sem ter de esperar as informações consolidadas no censo da educação, que acontece uma vez por ano?, afirmou Haroldo Corrêa Rocha, secretário de Educação do Espírito Santo.

O Compaz (Centro Comunitário da Paz), de Recife, inaugurado em 2016, é outro exemplo de integração. A instituição tem duas unidades na capital de Pernambuco e oferece serviços ligados à educação, como biblioteca, oficinas de cidadania e aulas de idiomas.

O espaço conecta pessoas de diferentes idades, interesses e histórias. ?Queremos dar lugar para os meninos bonzinhos, que fazem o dever de casa, mas também proporcionar um ambiente para o menino que dá trabalho?, disse Murilo Cavalcanti, secretário de Segurança do município.

Projetos estrangeiros também podem potencializar as experiências nacionais. A universidade de programação Escola 42, de Paris, é um modelo que poderia ser replicado no país, segundo Vanderlei Martinianos, um dos fundadores da instituição.

A universidade é colaborativa e gratuita. Não há professores nem horários definidos. O intuito é que os alunos atuem em conjunto na busca de soluções para os problemas.

?A escola atual desprepara para o futuro. A 42 é uma alternativa para aproximar os jovens da realidade que teremos daqui a 15 ou 20 anos.?

Os especialistas chamaram a atenção para o problema de descontinuidade das ações a cada troca de governo. Para eles, o acompanhamento ativo da sociedade civil é o que deve mudar essa realidade.

?O que foi feito pode morrer quando troca o gestor se a sociedade não acompanhar. Só com acompanhamento, pressão e apoio da sociedade civil é que a coisa anda?, disse Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.

As redes sociais tão utilizadas pelos jovens são apontadas pelos debatedores como ferramentas para a modernização do ensino brasileiro.

Segundo Rogério da Costa, professor de comunicação da PUC-SP, os professores ainda consideram celulares e tablets prejudiciais em sala de aula.

O caminho seria integrar a experiência dos jovens com tecnologia e redes sociais à educação. ?Na rede social, o aluno conversa e publica. Tem alguém para escutar na escola? Como ele vai virar um cidadão, capaz de conversar e contestar, se em uma parte importante da vida pedem que fique quieto ouvindo??

O ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro alertou, porém, para o fato de que o acesso à informação conecta o aluno ao mundo, mas não reduz a desigualdade social. ?Damos oportunidade, talvez, a apenas um terço da população de ter todos os conhecimentos e competências necessários. Quantos Mozarts não assassinamos no Brasil??
 
Leia mais (08/28/2018 – 18h35)