No fundo, especial de Natal do Porta dos Fundos é terrivelmente cristão

Em seus últimos momentos na cruz, prestes a expirar, Jesus Cristo recebe uma visita. Um anjo aparece para lhe retirar os pregos dos pés e das mãos e ajudá-lo a descer. Jesus, então, vai embora do Gólgota e passa a levar a vida de um ser humano qualquer. Primeiro ele se casa com Maria Madalena, mas ela morre depois de alguns anos. Aí Jesus forma um trisal com as irmãs Marta e Maria, e tem um monte de filhos com elas.

Um dia, ele encontra o apóstolo Paulo pregando em praça pública, falando do Messias que morreu na cruz para nos salvar. Jesus tenta avisar que não foi bem assim, mas Paulo o enxota dali. Finalmente, já bem velhinho, Jesus recebe os discípulos em seu leito de morte. É então que Judas, o eterno estraga-prazeres, o admoesta: “você foi covarde, desceu da cruz, não cumpriu sua missão”. O anjo, na verdade, era Satanás. Arrependido, Jesus implora a Deus por uma segunda chance. E o Pai atende o pedido do Filho: Jesus rejuvenesce e volta a agonizar na cruz, finalmente aceitando seu destino.

Este é o final do filme “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, baseado no livro de Nikos Kazantzakis. As duas obras causaram celeuma quando foram lançadas, chegando a ser proibidas em diversos países. E isto apesar da trama, assumidamente ficcional, reafirmar a divindade de Jesus Cristo e a importância de seu sacrifício para a salvação da humanidade. Mas a ideia de um Jesus com desejo sexual, como qualquer outro ser humano ?afinal, ele era tão homem quanto Deus? é demais para a cabeça de muita gente.

Em 1988, o filme de Scorsese teve sua exibição proibida na cidade de São Paulo pelo então prefeito Jânio Quadros. Trinta e um anos depois, vemos setores obscurantistas da sociedade reagirem da mesma maneira diante de uma obra com título semelhante: “A Primeira Tentação de Cristo”.
Leia mais (12/16/2019 – 10h00)